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Tecnologia termosolar: alternativa para a redução dos impactos socioambientais da energia elétrica

Faz parte da cultura do brasileiro chegar à casa depois de um dia de trabalho,

trânsito e mau humor do chefe e tomar aquele banho quentinho pra relaxar e

aliviar o estresse. No Brasil, o chuveiro elétrico é a forma predominante de aquecimento da água para banho e isto representa um altíssimo gasto energético para o país, porque,

a potência desse equipamento pode variar entre 3500 W a 8800 W (potência considerada elevada). Os principais fatores para explicar a utilização do chuveiro elétrico são o baixo custo inicial (existem aparelhos a partir de R$ 60,00 no mercado), fácil instalação (exige-se apenas a tubulação de água fria em PVC) e fácil manutenção (substituição da resistência elétrica quando queima).


Mas a maioria da população brasileira não tem consciência de como paga caro por

esse conforto, não apenas quando vem a conta de luz – o uso de chuveiro elétrico

numa casa com 4 pessoas é responsável por cerca de 30% do total da conta –, mas

também com gastos energéticos e impactos ambientais que isso causa para o

país, principalmente por ser utilizado no chamado “horário de pico”, ou seja, entre

18 e 19 horas.

Curva de carga representando o uso chuveiro elétrico ao longo do dia nas residências da região Sudeste.


Esse intervalo de uma hora coincide com o período de ponta do sistema elétrico

do setor residencial (período em que a maior parte dos brasileiros estão com

equipamentos elétricos ligados além do chuveiro, como televisão, forno de

micro-ondas, ferro elétrico, secador de cabelos, ar condicionado, etc.).

Dados da pesquisa do Procel – Programa Nacional de Conservação de Energia

Elétrica, coordenado pelo Ministério da Energia e executado pela Eletrobrás (Centrais Elétricas Brasileiras) – de 1988 (última pesquisa realizada), indicam que neste período, em 50% das residências, pelo menos uma pessoa está com o chuveiro ligado.


Esse alto grau de utilização repercute diretamente no consumo de energia elétrica

das regiões Sul e Sudeste, devido à grande concentração populacional da região. Sabe-se que juntas representam aproximadamente 90% do total de energia elétrica consumida no aquecimento de água em chuveiros elétricos no país.

E, para suprir todo esse consumo, são construídas usinas hidrelétricas: cada pessoa que toma banho exige a inundação de uma área de 56 m² e a isso somam-se os fortes e irreversíveis impactos ambientais.

A problemática do uso do chuveiro e suas consequências poderiam ser amenizadas com a utilização da tecnologia termosolar, que consiste na utilização da energia solar no aquecimento da água por meio de coletores solares.

Conforme dados do Cresesb (Centro de Referência para Energia Eólica e Solar Souza Brito), vinculado à Eletrobras, o Brasil, com seu território de 8,5 milhões de km², situado em sua maioria em latitudes entre o Equador e o Trópico de Capricórnio, apresenta uma incidência de energia solar bastante favorável. A média anual de energia incidente na maior parte do Brasil varia entre 4 e 5 kWh/m² por dia. Considerando que o Brasil tem uma média anual de 280 dias de sol, o território brasileiro recebe anualmente 10 trilhões de MWh de energia, o que pode possibilitar retornos relativamente rápidos e garantidos para os consumidores de aquecedores solares e substituir definitivamente toda a energia proveniente de hidroeletricidade utilizada pelo chuveiro elétrico. A utilização da tecnologia termosolar em larga escala, no país, seria uma forma de obter uma usina virtual de energia elétrica para os próximos séculos.


Para aproveitar esse enorme potencial solarimétrico e “construir” essa enorme usina virtual, o país precisaria desenvolver e difundir um grande mercado para a produção de aquecedores solares para serem instalados nos diferentes setores: residenciais, comerciais, industriais e segmentos rurais da agricultura e pecuária que utilizam em algum momento a água aquecida.

Vale ressaltar que as vantagens de utilização da tecnologia termosolar no mercado brasileiro repercutem diretamente em benefícios socioambientais, geração de empregos diretos e indiretos, economia nacional de energia elétrica, além da redução no valor da conta de luz, os mesmos objetivos que justificaram a criação do Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), criado em 2004 pelo Ministério de Minas e Energia para amenizar a ampliação da presença de energia hídrica na matriz energética.

Para isso, caberia adotar algumas medidas de caráter nacional, listadas no Livro “Um banho de Sol para o Brasil", entre elas:

  • alterar nas normas dos códigos de obras municipais que obriguem a instalação ou a pré-instalação das infraestruturas hidráulica e elétrica dos aquecedores solares em reformas e novas construções;

  • propor que as empresas do setor elétrico aumentem seus investimentos em programas de conservação de energia com aplicação em termosolar;

  • desburocratizar e divulgar de forma maciça linhas de financiamento específicas para aquecedores solares.

A Sociedade do Sol, desde 2001, tem como lema “Um aquecedor solar em cada lar”, para isso, desenvolveu o Aquecedor Solar de Baixo Custo (ASBC), que pode ser integrado às tubulações do próprio chuveiro elétrico, apresenta preço três vezes inferior aos tradicionais aquecedores solares metálicos e pode ser montado pelo próprio morador por meio do processo de autoconstrução. Para saber mais, obtenha gratuitamente o manual de montagem e instalação do ASBC, disponível no site www.sociedadedosol.org.br


Texto de Roberto Matajs Mestre em energia pelo IEE/USP, co-autor do livro Um banho de Sol para o Brasil e professor da Sociedade do Sol.

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