As concessionárias de energia elétrica precisam manter uma demanda de potência superior ao valor médio diário para atender seu mercado consumidor. Entretanto, fora do horário de pico essa demanda fica ociosa. A possibilidade de implementar ferramentas de gerenciamento pelo lado da demanda (GLD), permitiria às concessionárias atender novos mercados sem elevação de sua potência instalada, podendo comercializá-la em mercados mais rentáveis ou estender o atendimento para consumidores no final da linha.
A seguir são apresentadas os objetivos, a metodologia e os resultados de cinco ferramentas de GLD que podem ser aplicados no setor elétrico.
Corte de ponta
Objetivo: Reduzir o pico no período de ponta.
Metodologia: Melhoria na eficiência de equipamentos ou substituição de energéticos.
Resultado: Reduzir custos operacionais e de investimentos em motorização de hidrelétricas ou termoelétricas.
Preenchimento de vale
Objetivo: Aumentar a carga no período fora da ponta.
Metodologia: Identificar tarefas que podem ser feitas fora do período de ponta.
Resultado: Elevar a potência de base, tornando a curva menos acentuada.
Deslocamento de carga
Objetivo: Transferir a carga do período da ponta para fora da ponta.
Metodologia: Substituir equipamentos de alto consumo por outros que realizem a mesma tarefa, fora do período de ponta.
Resultado: Elevar a potência de base e diminuir o pico da ponta, tornando a curva menos acentuada.
Conservação estratégica
Objetivo: Diminuir a carga em todo o período do dia.
Metodologia: Melhorar a eficiência dos equipamentos ou fazer a troca de energético.
Resultado: Reduzir o consumo de energia elétrica, adiando a expansão da potência instalada.
Curva de carga flexível
Objetivo: Otimizar a demanda global da moradia.
Metodologia: Implementar diferentes medidas de GLD.
Resultado: Obter o controle da demanda ao longo do período do dia, de acordo com o que foi planejado entre o consumidor e a concessionária.
A implementação desses programas de GLD deve considerar os aspectos financeiros, além dos aspectos técnicos, pois precisam ser atrativos para todos os envolvidos: consumidor, concessionária e sociedade.
Os aspectos técnicos a serem considerados se resumem em troca de equipamento e ou tecnologia e troca de energético. No caso dos aspectos financeiros, o uso de figuras de mérito serve para quantificar a viabilidade econômica aos grupos envolvidos, permitindo a eles, conforme perspectivas e critérios de investimento individuais de cada grupo, decidir quanto à implantação.
Para uma concessionária de energia elétrica, que além do gerenciamento pelo lado da demanda, possui a opção de expansão da oferta, a decisão de escolher uma alternativa, deve ser tomada comparando os custos marginais de fornecimento de energia e potência instalada, com os benefícios obtidos na redução das receitas para cobrir as despesas de fornecimento de eletricidade e de atendimento de potência de ponta evitada, obtidos com a implantação da alternativa de gerenciamento pelo lado da demanda.
Por sua vez, o consumidor estaria motivado a participar da implantação de uma alternativa de GLD, caso obtenha um benefício financeiro, maior ou igual ao custo inicial e operacional do equipamento a ser instalado, observando que o tempo de retorno desse investimento depende do tempo de utilização do equipamento e também da redução no consumo de energia elétrica e consequentemente a redução no valor da conta de luz.
No caso do consumidor não-participante, ele pode ter a sua relação custo-benefício avaliada de acordo com a política tarifária da concessionária. Caso a concessionária ao implantar uma alternativa repasse os custos para as tarifas elétricas, o consumidor não-participante estaria sendo prejudicado. Por outro lado, se a implantação da alternativa não repercutir um aumento tarifário ou ocasionar uma estabilização, adiando um possível aumento tarifário, o consumidor não-participante estaria sendo beneficiado.
A avaliação do custo-benefício para a sociedade, deve ir além dos interesses particulares que são considerados pela concessionária e consumidor participante. A sua avaliação deve levar em consideração a redução dos impactos ambientais, geração de empregos, redução ou estabilização da taxa de inflação, etc. Muitos desses interesses possuem caráter social que não permite quantificá-los, entretanto caso exista um balanço positivo entre todos os interesses possíveis de quantificar, a alternativa de gerenciamento pelo lado da demanda, deve ser implementada.
Numa análise específica, tomando como exemplo a demanda originada pelo chuveiro elétrico no horário de ponta, entre 17 e 20 horas, temos três propostas da GLD que poderiam ser implementadas visando o corte ou transferência da carga. Nessas três ferramentas, os aspectos técnicos a serem considerados se resumem em troca de equipamento e ou tecnologia e troca de energético. Dessa forma, uma possibilidade seria a substituição do chuveiro elétrico por tecnologia solar térmica ou fotovoltaica, que atenderia os aspectos técnicos e financeiros para o consumidor, pois o tempo de além da redução no consumo de energia elétrica o tempo retorno do investimento seria menor que o tempo de vida útil dos equipamentos.
Consumo residencial e a geração de energia solar.
Texto de Roberto Matajs Mestre em energia pelo IEE/USP, co-autor do livro Um banho de Sol para o Brasil e professor da Sociedade do Sol.
crédito da imagem: <www.aneel.gov.br/documents/656827/15234696/Nota+T%C3%A9cnica_0056_PROJE%C3%87%C3%95ES+GD+2017/38cad9ae-71f6-8788-0429-d097409a0ba9?version=1.0>