No mês de dezembro de 2021, a Sociedade do Sol concluiu o projeto “Sol Para Todos”, instalando gratuitamente Aquecedor Solar de Baixo Custo (ASBC) nas moradias de trabalhadores da cooperativa de reciclagem Luta e Vida, em Guarulhos, e nas moradias da Organização do Auxílio Fraterno, em São Paulo, uma unidade de acolhimento de pessoas em situações de vulnerabilidade.
O projeto “Sol Para Todos” se iniciou há alguns meses, quando a equipe da Sociedade do Sol visitou essas organizações, fez a apresentação do projeto e selecionou quais moradias poderiam ser contempladas. Após participarem da palestra de apresentação, as pessoas que demonstraram interesse se cadastraram no projeto e tiveram suas moradias avaliadas por técnicos da Sociedade do Sol para saber se elas atendiam os critérios técnicos necessários para a instalação da tecnologia ASBC.
Após as adequações necessárias nas moradias selecionadas, os próprios moradores realizaram a montagem e a instalação dos ASBC em suas residências, com a supervisão e o apoio de técnicos da Sociedade do Sol. Ao longo dos próximos meses, essas famílias se beneficiarão do uso de água quente no banho com um custo reduzido na conta de luz, pois o ASBC aquece a água usando a energia solar em vez da energia elétrica.
Para a equipe da Sociedade do Sol, foi de grande importância realizar esse projeto, pois conhecemos um pouco mais sobre o trabalho realizado pelas cooperativas de reciclagem e a rotina diária dos trabalhadores que atuam nas tarefas de seleção e separação dos resíduos que chegam a esses locais. Para se ter uma ideia da relevância desse trabalho, dados disponíveis no site da prefeitura de Guarulhos indicam que, diariamente, são geradas mais de mil toneladas de resíduos, das quais cerca de 45% são recicláveis.
Guarulhos conta com um programa de coleta seletiva de recicláveis implementada em alguns bairros da cidade, em que caminhões realizam a coleta desses resíduos uma vez por semana e os entregam nessas cooperativas. Além desse programa municipal, existem os catadores autônomos, que recolhem diariamente resíduos recicláveis nas ruas da cidade. Munidos, muitas vezes, de um carrinho de puxar ou um veículo motorizado em condições precárias, eles percorrem as ruas em busca de resíduos que podem lhe render um lucro ao ser comercializado em ferros-velhos que intermediam a venda para as cooperativas.
Entretanto, essa intermediação reduz substancialmente o ganho financeiro dos catadores autônomos, pois os impedem de se relacionar diretamente com as indústrias utilizam dos materiais recicláveis. Uma maneira de atenuar essa situação seria a formação de cooperativas de segundo grau, a fim de ampliar os ganhos proporcionais ao esforço pessoal demandado pelos catadores autônomos. Sabemos que sozinhos eles não podem se organizar e montar uma cooperativa de segundo grau de catadores autônomos, pois precisariam receber orientação de órgão público ou privado de como implementar todas as etapas de coleta, separação, envase, entrega e processamento dos materiais coletados.
Considerando o relevante trabalho social e ambiental realizado pelos catadores autônomos, a formação de uma cooperativa de segundo grau proporcionaria aos associados elevação da autoestima e a melhora dos ganhos econômicos, além de beneficiar a sociedade como um todo.
Texto de Roberto Matajs Mestre em energia pelo IEE/USP, co-autor do livro Um banho de Sol para o Brasil e professor da Sociedade do Sol.
Crédito das fotos: @recicla.luta.vida